Ceensp trata da abordagem participativa
Metodologias
quantitativa e qualitativa, seus usos, desafios e contribuições foram o
foco do Centro de Estudos da ENSP Miguel Murat realizado na Escola. O
encontro, intitulado Metodologias qualitativas e abordagens participativas em Saúde,
reuniu pesquisadores da ENSP e uma convidada internacional: a diretora
da Unidade de Saúde Pública Internacional e Bioestatística do Instituto
de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade de Nova Lisboa, em
Portugal, Sónia Diaz. Durante o evento, a pesquisadora do Departamento
de Ciências Sociais (DCS/ENSP) e coordenadora da mesa, Regina Bodstein
contou que a vinda de Sónia à ENSP pontua o início de uma articulação de
cooperação que visa construir e desenvolver uma proposta de ensino de
metodologia qualitativa em diversas modalidades e estratégias.
Iniciando as apresentações, Regina Bodstein, abordou a metodologia
qualitativa e falou sobre a articulação necessária, conflituosa e tênue
entre o quantitativo e o qualitativo. De acordo com ela, é preciso
recuperar este espaço de discussão das metodologias qualitativas.
“Percebo um reconhecimento da contribuição que a pesquisa qualitativa
pode trazer para a nossa área de saúde. Porém, ao mesmo tempo, há uma
demanda muito grande de disciplinas e conteúdo nesse campo, e uma
fragilidade na oferta de disciplinas e discussões que considerem estes
enfoques. Portanto, os desafio são de várias ordens. Se referem à
pesquisa, ao desenvolvimento de modelos, às avaliações feitas pelos
comitês de ética, as publicações atreladas à pesquisa etc.” Segundo
Regina, a
Além de Sónia e Regina, a mesa de
discussão também contou com a presença do pesquisador da ENSP Willer
Marcondes. Em sua fala, ele fez um retrospecto sobre a experiência, que
teve início no ano de 2002 por uma iniciativa da professora da ENSP
Célia Leitão Ramos, cuja proposta foi renovar a discussão de metodologia
de pesquisa social em saúde. “Fazemos um esforço de interlocução não
somente entre métodos e técnicas, mas uma teoria que informe sobre a
pesquisa social. Esse relato não é somente sobre a experiência de uma
metodologia de pesquisa social, mas de um empreendimento social de maior
envergadura que se fortalece e se retroalimenta diretamente com a
disciplina de teoria social, que informa sobre métodos e técnicas que
vão produzir esse conhecimento na sociedade”, explicou.
Partindo desse princípio, disse ele, os pesquisadores não olham para o
contexto social apenas como fonte de extração de dados. “Percebi ao
longo dos anos que fazemos uma produção de dados na qual os métodos e
técnicas de pesquisa social geram a possibilidade de uma interação
social com fins de pesquisa. É importante dizer que não inventamos os
dados, no entanto, vale salientar que todo o dado é produzido por meio
de uma interação de pesquisa em que métodos e técnicas são mediadores”,
detalhou Willer.
Outro aspecto abordado pelo
pesquisador foi a má reflexão da metodologia de pesquisa. “Se apenas
aplicarmos os métodos e produzirmos muitos dados, mas não conseguimos
analisá-los e dar retorno à sociedade sobre os nossos trabalhos de
campo, estaremos criando uma fadiga de campo, ou seja, vamos começar a
perceber cada vez mais a dificuldade de entrar em campo e de obter
entrevistas. Isso é causado diretamente pela falta de reflexão sobre as
abordagens qualitativas que, na urgência da produção de dados e na
necessidade do produtivismo, não consegue pensar no seu retorno para a
sociedade ou sequer na qualidade da sua produção analítica.
Em sua apresentação, Sónia Dias trouxe alguns aspectos para reflexão.
Ela abordou o que é a investigação participativa e falou sobre o
contexto brasileiro dessa investigação; deu exemplos de projetos que
utilizam essa abordagem e mostrou algumas vantagens e desafios, A
pesquisadora também questionou os caminhos da pesquisa em saúde: “Qual o
problema da nossa investigação em saúde para que haja tão pouco impacto
no que se refere à produção do conhecimento?”, indagou ela.
Sónia afirmou defender sempre o conhecimento. “Busco a melhor abordagem
metodológica para alcança-lo, seja ela qual for”, argumentou, afirmando
imenso esgotamento para as discussão entre os métodos quantitativos e
qualitativos. Em sua apresentação, ela também destacou o atual
incentivo às questões de publicação. “Devemos pensar em como desenhar e
planejar uma pesquisa que, por um lado, produza conhecimentos e, por
outro, seja de fato importante para a melhoria da saúde das pessoas
independente da abordagem metodológica utilizada. Esse é um grande
desafio”, assegurou Sónia, afirmando que divulgar os conhecimentos
produzidos é uma obrigação do pesquisador. De acordo com ela, quanto
mais divulgarmos, maior será o número de pessoas com acesso ao
conhecimento produzido.
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