O ALZHEIMER E A LUTA CONTRA 0 RELÓGIO
Pesquisas
sobre diagnóstico e estimativas de risco de ocorrência avançam para
tentar conter a doença, que em 2050 deve atingir 115 milhões de pessoas.
A
doença de Alzheimer tem se expandido com velocidade alarmante no mundo,
mas ainda intriga cientistas. Segundo a Associação Internacional da
Doença de Alzheimer (ADI), 35,6 milhões de pessoas convivem com a
enfermidade, segundo dados de 2010. A estimativa é que este número
praticamente dobre a cada 20 anos, chegando a 65,7 milhões em 2030; e a
115,4 milhões, em 2050. Mas como se trata de uma enfermidade até agora
incurável e cuja causa ainda é desconhecida, pesquisadores de todo o
mundo se debruçam em formas de, ao menos, facilitar o diagnóstico e de
apontar seus riscos de ocorrência.
Publicado
este mês no periódico "Neurology" um estudo de três universidades
americanas — Emory, da Pensilvânia e de Washington — deu mais um passo
no intuito de desenvolver um teste de sangue para identificar o
Alzheimer, que atualmente é diagnosticado
clinicamente ou por meio de análise cerebral. Na pesquisa, foram
medidos os níveis de 190 proteínas contidas no sangue de 600
voluntários: pessoas saudáveis, com diagnóstico de Alzheimer ou de
Comprometimento Cognitivo Leve (MCI, na sigla em inglês) — que pode ser
um estágio anterior do Alzheimer e que já aponta para o declínio das
habilidades cognitivas. Os testes mostraram que os níveis de quatro
proteínas (apolipoproteína E, peptídeo natriurético do tipo B, proteína C
reativa e polipeptídio pancreático) eram destoantes nos pacientes com
MCI e Alzheimer, se comparados com os mesmos níveis em voluntários
saudáveis.
—
Apesar de os testes de sangue ainda não estarem prontos para serem
colocados em prática, agora nós já identificamos formas de torná-los
viáveis — afirmou o autor principal do trabalho, William Hu, professor
assistente de Neurologia na Universidade de Medicina de Emory, na
Geórgia, EUA.
ALZHEIMER CUSTA USD 604 BILHõES POR AN0
Outra
pesquisa, divulgada em julho durante a conferência internacional da
ADI, mostrou que cientistas do Brigham and Women's Hospital, de Boston,
nos EUA, já estão oferecendo um teste genético preliminar para estimar
os riscos de Alzheimer em pessoas diagnosticadas com o MCI. Eles
acompanharão estes pacientes por seis meses, e novos resultados devem
ser divulgados no final deste ano.
A organização Mundial de Saúde (OMS) publicou um comunicado cobrando que governos e formuladores de políticas públicas considerarem
a doença uma prioridade mundial no âmbito da saúde pública. Segundo o
relatório, os custos estimados com ela são de US$ 604 bilhões por ano no
mundo. Hoje, apenas oito dos 194 Estados membros da OMS tem um piano
nacional de combate a demência em execução.
O
Alzheimer é o principal tipo de demência, ou seja, doença degenerativa
que afeta os neurônios. Há, no entanto, outras formas comuns de demência
que afetam a população, como a vascular (devido a acidentes vasculares
cerebrais) e a de corpos de Lewy (estruturas anormais de proteínas em
certas partes do cérebro). Há ainda infecções que podem afetar o
cérebro, como Aids e doença de Lyme (causada por bactéria transmitida
pelo carrapato). A Esclerose Múltipla, as doenças de Huntington
(disfunção cerebral hereditária) e de Pick (neurodegenerativa rara) e de
Parkinson também podem acabar levando à demência.
O CÉREBRO E A MEMÓRIA
A
memória humana é um fenômeno biológico e psicológico envolvendo uma
série de sistemas cerebrais que funcionam juntos e em diferentes áreas.
O cérebro humano tem 100 bilhões de neurônios que
se comunicam pelas chamadas sinapses, terminações que não se tocam.
Nelas, são liberados íons e agentes químicos necessários para a condução
do estímulo, que corre numa velocidade de milissegundos.
A preservação desse mecanismo
depende do seu uso continuado. Por isso, é comum esquecermos o que não é
utilizado pelo cérebro com frequência. Por outro lado, os neurônios que
forem mais estimulados terão um desenvolvimento progressivo.
No caso da doença
de Alzheimer, a perda da memória ocorre devido a um desmembramento de
forma equivocada da proteína amilóide, que gera toxinas aos
neurônios e que danifica as sinapses. O apagão começa pelo hipocampo, que armazena as memórias recentes. Com a evolução da doença, as placas amilóides se acumulam e danificam outras áreas do cérebro. A partir daí, a memória do passado também começa a desaparecer.
Atenção é o segredo da memória.
Evento discute as melhores formas de evitar esquecimento e mostra que processo permanente de aprendizado é fundamental.
FlAvia Milhorance
Dos
jovens aos mais velhos, é raro encontrar alguém que não reclame de
esquecer coisas importantes, seja um livro recente, uma palestra, um
compromisso ou um comunicado. A tendência é achar que há problemas de
memória. A boa notícia é que, na maioria dos casos, não há nenhuma
deficiência no funcionamento do cérebro. O indivíduo só precisa estar
mais atento, focar em suas atividades, além de sempre exercitar a mente.
E mais, o esquecimento é um processo absolutamente natural, que faz
parte do aprendizado do ser humano. É o que garantiram especialistas que
participaram da quinta edição dos Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar,
na última quarta-feira, sobre a memória.
—
Na maioria dos casos, quando não há uma doença, o problema de memória
é, na verdade, um problema de atenção — afirmou a neurocientista Suzana
Herculano-Houzel, da UFRJ.
Com
o advento da internet, uma das dificuldades do mundo moderno e lidar
com a enxurrada de dados e imagens, segundo o cardiologista Claudio
Domenico, coordenador do evento, que citou o autor americano bestseller
Nicholas Carr.
—
Uma das frases dele e que "a mente linear, focada, sem distrações está
sendo expulsa por um novo tipo de mente que quer e precisa tomar e
aquinhoar informação em surtos curtos, desconexos, frequentemente
superpostos, quanto
mais rapidamente, melhor". Realmente, hoje há um excesso de informação e a internet tem aquela história de surfar, a gente não se aprofunda — criticou.
A neurologista Carla Tocquer concorda que a internet distrai e aconselhou a focar em apenas um assunto:
— É preciso engajar a atenção, estar presente no agora. Aquele comportamento da internet de passar de um assunto a outro, acaba sendo nocivo à memória. Como posso melhorar o registro? Se estiver 100% presente, disponível no momento, amanhã quando eu quiser me lembrar do dia de hoje vai ser muito mais fácil.
A ideia da internet como vilã, porém, não é aceita como argumento por Suzana Herculano-Houzel.
—É
muito fácil colocar a culpa na internet. Não existe informação demais
hoje. Sempre existiu informação demais para o cérebro da gente, desde o
início dos tempos. O problema é que o cérebro só consegue prestar
atenção em uma coisa de cada vez — defendeu.
Muito
além de apenas um sistema de armazenamento de informações no cérebro, a
memória está ligada ao aprendizado e é responsável por definir a
identidade de cada um, por mudar o cérebro conforme as experiências.
—O
cérebro aprende, muda, faz diferente, isto é memória. Há a mudança do
comportamento por causa das experiências anteriores. Perder a memória
quer dizer passar pela vida em branco. Seu cérebro não registra o que
aconteceu, e é como se nada tivesse acontecido ao seu redor — afirmou
Suzana.
A
neurocientista também explica que a memória é um processo físico, que
envolve mudanças de conexões do cérebro, que são as sinapses, onde os
neurônios trocam informações uns com os outros. Até a década de 1950,
acreditava-se que o indivíduo já nascia com um número estabelecido de
sinapses. Hoje se sabe que novas sinapses são criadas e outras,
perdidas, ao longo da vida.
—Uma
parte importante do aprendizado é de remoção daquilo que não serve, do
que não funciona. Mas ao mesmo tempo, aquelas sinapses que servem para
alguma são fortalecidas. Enfraquecer ou fortalecer uma sinapse quer
dizer, essencialmente, diminuir ou aumentar o impacto que um neurônio
tem sobre o seguinte. É um processo de lapidação, a memoria é a
escultura que fica.
NÃO EXISTEM PÍLULAS MILAGROSAS
A
capacidade de aprendizado na infância é maior do que na idade adulta,
assim como é mais comum o idoso ter queixas de perda de memória do que o
jovem. Mas uma série de pesquisas lança otimismo em relação ao
envelhecimento do cérebro, e aponta para a possibilidade de recuperação
da memória se ela for estimulada, por exemplo, com exercícios físicos e
com o hábito da leitura frequente.
Por
outro lado, há fatores que influenciam negativamente na memória humana,
e acabam por agravar os efeitos do tempo. Álcool e outras drogas,
depressão, alimentação inadequada, assim como algumas doenças e
deficiências nutricionais.
Técnicas
para melhorar a memória tiveram espaço de destaque durante o debate,
assim como o alerta para comprimidos que se dizem milagrosos e que
prometem melhorar o desempenho cerebral:
—Há
uma pílula que acabou de sair chamada Cognizin, está à venda por R$
69,99. Para quem adora vitamina, é uma ótima maneira de fazer um xixi
mais caro, não serve para absolutamente nada — comentou Domenico.
Segundo
ele, não há fórmula mágica: ler, boa alimentação e exercícios são as
melhores formas de desenvolver o cérebro. Já Carla Tocquer deu outra
dica:
—O
relaxamento vai deixar a pessoa mais disponível e a meditação vai
ajudar não só no registro como no armazenamento da informação.
A maioria das queixas de
perda de memória não tem relação alguma com doenças. Estresse, cansaço
ou apenas a pouca utilização da memória podem torná-la menos eficaz.
Felizmente, há maneiras de mantê-la mais fresca.
ATENÇÃO:
Se nós prestássemos mais atenção às coisas que nos são ditas, nossa
memória seria excelente. Mas, considerando a quantidade de distrações
que nos cercam, é preciso mais esforço para reter informações. Se você
já tem a atenção reduzida, tente melhorar alguns dos maus hábitos.
Quando souber que está recebendo de alguém uma informação que é
importante, por exemplo, tente manter contato visual, tome notas,
sente-se com postura e faça perguntas. Tornar-se mais engajado na
conversa, palestra ou entrevista poderá ajudar a manter o maior número
de informações.
ALIMENTAÇÃO:
A maioria das pessoas subestima o papel da dieta sobre a inteligência e
a memória. Baixos níveis de glicose no sangue podem gerar cansaço, não
apenas físico, mas também mental. Uma boa estratégia para evitar este
tipo de desgaste é comer várias pequenas refeições durante o dia.
SONO:
Dormir bem também é um hábito frequentemente subestimado. Quando
dormimos, nossa mente entra em estado de descanso e recuperação. Dormir
profundamente é benéfico porque permite ao cérebro ter tempo para formar
novas conexões neuronais. Sonhar é outra parte do processo de alívio do
estresse, que limpa a mente e permite um aprendizado mais rápido.
Dormir em média sete ou oito horas por noite pode ser crucial quando se
está tentando lembrar de uma grande quantidade de informação.
ORGANIZAÇÃO: Se
sua escrivaninha está desorganizada, abarrotada de objetos
desnecessários, há chances de seu cérebro estar lidando com o mesmo
problema, e isto pode interferir no processo cognitivo. Organize o que
for importante ao seu redor. Às vezes, apenas separar objetos por
assunto, como por exemplo os boletos de contas já é suficiente.
REPETIÇÃO: O cérebro
é muito eficiente em reconhecer e categorizar padrões. Por isso,
repetir a mesma tarefa ou frase é uma das melhores formas de memorizar.
Isto acontece porque o cérebro registra a informação como uma prioridade
e a armazena num local acessível. O bom e velho hábito de se repetir em voz alta continua sendo um dos melhores métodos de memorização.
APRENDER: Pode ser uma aula de culinária, de pintura ou de História Antiga. O mais
importante é continuar aprendendo para exercitar a memória e melhorar o
estoque de informações. Arrumar um hobby e ler também ajudam.
Fonte: Jornal O GLOBO – 19/08/2012 – Caderno SAÚDE
ESPERANÇA CONTRA PARKINSON E ALZHEIMER
HORMÔNIO NO CORPO HUMANO PODE AJUDAR NO TRATAMENTO DE DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS
O hormônio Ouabaína,
tradicionalmente utilizado no tratamento de doenças cardiovasculares,
possui efeito de proteção aos neurônios, aponta estudo recente da
Universidade de Sao Paulo (USP). A descoberta representa uma
possibilidade de avanço no tratamento de doenças neurodegenerativas,
como os males de Parkinson e Alzheimer, tendo em vista que atualmente
não existe medicamento capaz de impedir a morte dos neurônios.
A ouabaína é extraída da espécie de planta Strophantus gratus, a
exemplo da dedaleira (flor medicinal e ornamental), e também é
encontrada no organismo humano. O professor Cristoforo Scavone,
responsável pela pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da
USP, explica que e a proteção dos neurônios pode ser conseguida de
maneira natural, porque o hormônio e é liberado no corpo durante a
pratica de exercícios físicos.
"Se
ela (a ouabaína) e liberada naturalmente no exercício e se é protetora,
mais um motivo para as pessoas terem práticas saudáveis. E muito mais
promissor que certas drogas", avaliou. "Isso pode fazer com que as
doenças, típicas do envelhecimento, apareçam em fases mais tardias",
ressaltou.
A
combinação de medicamentos e a pratica de atividade física já esta
sendo utilizada no tratamento dessas doenças, segundo o professor. O
pesquisador alertou, no entanto, que os medicamentos atuais agem apenas
como paliativos. “São testados muitos compostos, mas o grande problema e
que nenhum deles consegue estancar o processo de morte dos neurônios",
declarou. Para Scavone, a pesquisa desenvolvida pelo ICB pode abrir uma
nova área de estudo, com a perspectiva de produção de novos remédios.
Ele
avalia, no entanto, que a prevenção, com a prática de atividades
físicas, ainda é a melhor opção. "Hormônios são complicados de se usar
como fármacos. Eles podem estimular o crescimento celular. Tivemos
exemplos, como a reposição hormonal em mulheres, que demonstram o
aumento dos casos de câncer. O tratamento hormonal pode induzir efeitos
colaterais em longo prazo, que eu não sei se serão tão positivos quanta
as estratégias naturais", ponderou. Embora esteja comprovada a
capacidade de proteger os neurônios com o uso da ouabaína, ainda serão
feitos estudos para saber a ação do hormônio contra os males de
Parkinson e Alzheimer. "Estamos começando a trabalhar nos modelos das
doenças neurodegenerativas para ver como se processa essa proteção. Por
enquanto, analisamos a resposta em relação a inflamação e vimos que há
uma proteção ao estímulo inflamatório", explicou.
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quinta-feira, 23 de agosto de 2012
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